O que pensam as eleitoras brasileiras?

Por Coletivo Mulher Vida

Pesquisa encomendada pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) ouviu mulheres sobre democracia, eleições de 2018, direitos e políticas públicas

POR AMANDA STABILE | 28/09/2022

Após 90 anos da conquista do voto feminino no Brasil, em 1932, as mulheres brasileiras são a maioria do eleitorado no país. Elas representam, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 52,65% dos votantes, enquanto os homens equivalem a 47,33%. Por essas e outras razões, especialistas apontam que as escolhas políticas das mulheres podem definir, nas urnas, o rumo do país.

Porém, atualmente ocupam apenas 15% das cadeiras do Congresso Nacional e, na disputa eleitoral deste ano, elas continuam a ser sub-representadas, sendo apenas 33% das candidaturas – o que é um recorde em relação às eleições de 2018 e 2014, mas que não vai muito além da obrigatoriedade de reserva de 30% de candidaturas para as mulheres nos partidos.

Para entender o que pensa o eleitorado feminino brasileiro, o Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) encomendou ao Instituto Locomotiva uma pesquisa qualitativa. O estudo ouviu mulheres sobre democracia, partidos e os três poderes; a relação com a política institucional e as eleições; as eleições de 2018; e sobre direitos e políticas para mulheres.

O que pensam as eleitoras?

Dentre as principais dificuldades enfrentadas hoje pela população brasileira, as participantes da pesquisa destacaram a crise econômica agravada pela pandemia, que gerou dificuldades em relação ao mercado de trabalho e o aumento no custo de vida da população.

Cilene Alves, de 47 anos, foi uma das eleitoras que participaram da pesquisa. Maranhense, mas morando no Rio de Janeiro há 26 anos, a enfermeira vê nas eleições deste ano uma possibilidade de mudança, já que está desacreditada dos governantes do país e do seu estado.

“Esses políticos que a gente tem são todos corruptos. Meu critério [de voto] é para que venham políticos sinceros, que trabalhem para melhorar a vida das pessoas que moram na periferia. Eu mesma moro em uma favela”, desabafa.

Assim como para ela, as demais entrevistadas no estudo consideram que a democracia está associada a liberdades em geral, especialmente para expressar a sua opinião, ser ouvida e se manifestar livremente. Porém, enxergam que na maioria das vezes os eleitores são ouvidos apenas na hora do voto.

Diferente dos homens, as mulheres tendem a olhar para a política pela via do “concreto” e seu impacto na vida cotidiana. Por isso, dão maior importância a questões sociais como principais problemas do país, como preocupação com a saúde, o desemprego, a inflação e a fome.

Arrependimento e vergonha

A maioria das eleitoras ouvidas pela pesquisa votou no atual presidente, Jair Bolsonaro, no primeiro e no segundo turno das últimas eleições presidenciais, em 2018. Todas se mostraram arrependidas e até envergonhadas da escolha. 

Dentre as principais razões para o voto, apontaram: os escândalos de corrupção que envolviam o Partido dos Trabalhadores (PT); a aposta em um candidato que tinha ideias consideradas diferentes; os valores compartilhados com o candidato, como a defesa da família.

“A minha vida toda eu fui petista, mas também chegou uma época em que eu não sabia mais em quem votar. Eu estou desacreditada, mas o governo que está é mil vezes pior. Tem que sair senão pode ficar pior ainda”, alerta Cilene.

Hoje, as principais críticas das mulheres ao governo dizem respeito à incapacidade de enfrentar a crise econômica; o descaso e mau exemplo em relação ao cuidado com a saúde na pandemia; sua postura em geral, considerada incompatível com a do presidente; e o cerceamento das liberdades.

Também perceberam a precarização de serviços públicos fundamentais e relataram se sentir as mais impactadas pelas ausências de políticas públicas efetivas para as mulheres,  especialmente em função de seus papéis de cuidadoras. Demandam, ainda, maior atenção à saúde da mulher.

Meu voto vale muito

Com base nessa pesquisa, a campanha Meu Voto Vale Muito foi lançada pelo CFEMEA no início de agosto. Apoiada pela Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH) e outras 17 organizações feministas e da sociedade civil, a campanha tem o objetivo de valorizar o voto das mulheres e conversar com elas sobre como escolher bem seus candidatos pode impactar nos pontos mais sensíveis de suas vidas.

“Eu concordo que o voto das mulheres vale muito. Nós somos maioria. Se todas as mulheres se unissem com o mesmo pensamento iríamos mudar 100% o Brasil”, conclui Cilene.


Texto publicado originalmente em Expresso na Perifa – Estadão

Fonte: https://nosmulheresdaperiferia.com.br/opiniao-eleitoras-brasileiras/