Perfil #01 – Lélia Gonzalez
Por Maria Alice
Conheci Lélia Gonzalez através da minha ex-diretora Mazarelo Rodrigues e foi uma descoberta ao mesmo tempo incrível e chocante porque ela é uma referência que esteve próxima da minha realidade, e não é contada nos livros de história, motivo principal de eu ter trazido ela para iniciar esse “Perfil”.
Formada em história, filosofia e geografia, a intelectual e ativista assídua nos movimentos de gênero e raça, Lélia D’Almeida Gonzalez foi uma grande revolucionária e evidenciou a posição estratégica das mulheres negras na sociedade brasileira.
“A gente não nasce negro, a gente se torna negro… “
Nascida em fevereiro do 1935 em Belo Horizonte, filha de Acácio Almeida, um operário, e de Urcinda Almeida, uma empregada doméstica, teve como sua descendência a afro-indígena.
Apesar de ser pobre, ela teve um bom ensino no Rio de janeiro, estudou em escola e faculdade prestigiadas e logo começou a lecionar, e por curiosidade nesse meio acadêmico conheceu e se casou em 1964, com Luiz Carlos Gonzales.
“… É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora…”
Ele, vindo de uma família espanhola e justamente por essa relação inter racial, eles sofreram diversas discriminações raciais e sociais, principalmente por parte da família de Luiz, que por fim um ano após do casamento, infelizmente toda essa pressão levou a uma tragédia, o suicídio de seu amado.
Depois de tudo, esse acontecimento influenciou na reflexão e autoanálise da própria Lélia em relação aos traços que ela levava consigo, começou seus estudos na psicanálise e no candomblé, suas principais referências em seu trabalho.
“… Aí entra a questão da identidade que você vai construindo. Essa identidade negra não é uma coisa pronta, acabada…“
A partir da década de 70, a ativista ressurgiu e começou a sua militância ativamente no meio sócio-político cultural e educacional, lançando por exemplo, o conceito de Amefricanidade e Pretuguês, e alguns outros livros.
“… Então, para mim, uma pessoa negra que tem consciência de sua negritude está na luta contra o racismo. As outras são mulatas, marrons, pardos etc.”
Pelos países que ela passou deixou seu legado, a própria Ângela Davis, entidade importantíssima na revolução racial, ao visitar o Brasil em 2019 cita o seguinte:
“Por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo” Ângela Davis
* Informação encontrada no Jornal El País em uma homenagem a Gonzalez – https://brasil.elpais.com/cultura/2020-10-25/lelia-gonzalez-onipresente.html
Davis fala referindo-se a gama de conhecimento que podemos usufruir através das nossas referências brasileiras.
Lélia morreu aos 59 anos, devido a um infarto em sua casa. Por muito tempo seus trabalhos ficaram na gaveta das editoras, e só agora eles estão sendo reconhecidos e expostos devidamente.
*Texto originalmente construído para Oficina de Podcast, adaptado para o Perfil.
*Eu sou Maria Alice, tenho 15 anos, estou cursando 2º do EM e estou envolvida nas áreas de audiovisual, fotografia e designer. No CMV, integro a equipe do Núcleo de Comunicação.